sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

"Felicidade Clandestina - O Outro Lado da História"




Olá leitores! 
Por acaso vocês já leram o conto Felicidade Clandestina, de Clarice Lispector? Caso não, vocês estão perdendo um belo conto.
Foi em uma aula conjunto de Português e Filosofia que ele me foi apresentado. Usaríamos ele para trabalhar a questão da felicidade. E foi vendo as explicações sobre sua reflexão que tive a grandiosa ideia de fazer uma outra versão dele próprio, já que a história se passa com duas personagens (protagonista e antagonista), e como já ouvi muito, sempre devemos desconfiar de algo nos contado em terceira pessoa, pois muita das vezes o narrador pode estar mentindo, principalmente se não houver o outro lado do ocorrido.
Bem, espero que gostem do texto que fiz :)


P.S.: Caso queira ler a versão original antes de tudo, clique aqui.

Felicidade Clandestina – O Outro Lado da História


“Tudo bem que sou gorda, baixa, sardenta e de cabelos excessivamente crespos e ruivos, com um busto enorme e os bolsos da blusa abarrotados de balas. Nunca tive inveja dos belos corpos das outras garotas, mas parece que elas têm de mim, por ter algo que todo leitor ou leitora tem o sonho de ter: um pai dono de livraria.
Eu amava isso, mas a coisa de ruim eram as amizades interesseiras. Ficavam me mandando indiretas na escola para ganharem um livro ou outro de natal ou aniversário. Eu odiava isso, então, sempre lhes entregavam um cartão postal, aqui de Recife mesmo, caprichando na letra de minhas palavras no momento de escrever  “data natalícia” ou “saudades”.
A maioria das garotas me zombavam pelo fato de eu fazer barulho quando chupo balas. Não deviam saber que eu tinha um problema de respiração. Além disso, ficavam se exuberando pelos corredores da escola, todas com suas belezas e vaidades, sempre nas posses de Patricinhas.
Nunca gostei de emprestar meus amados livros, inventava uma desculpa ou outra, porque sempre voltavam estragados. Insistiam muito para emprestar meus preciosos, em especial uma garota da minha turma escolar.
‘As Reinações de Narizinho’ era a obra que ela ficava a me pedir todos os dias, alegando que não tinha condições para comprá-lo e que logo me devolveria. Para acabar logo com todo aquele drama, disse que poderia passar na minha casa no dia seguinte para pegá-lo.
Eu não poderia emprestar este livro, ele era perfeito, meu Deus, um livro grosso para passar a vida lendo-o. eu tinha que pensar em alguma maneira para que ele continuasse em minha casa.
No dia combinado, a garota apareceu em minha casa, toda sorridente. Foi então que falei que o livro estava na casa de outra menina e que ela deveria vir no outro dia para buscá-lo. E assim foi se passando várias semanas, ela com o mesmo sorriso de ponta a ponta e eu com a mesma desculpa farrapada.
Toda encenação ia bem até que um dia minha mãe resolveu atender a pobre garotinha que aparecia todos os dias em sua porta, que já devia ter perdido as esperanças de conseguir o livro. Foi então que mamãe descobriu me pobre plano, dizendo que eu nunca lera ele, sendo que eu so lia a noite quando ia dormir, e agora ela tinha deixado aquela infeliz levá-o e ficar por quanto tempo quiser. Inacreditável!
Não suporto  ver aquele vazio na prateleira de minha estante toda vez que vou pra cama. Talvez nunca se preencha novamente. Não só um espaço vazio, mas também um buraco em meu peito, ainda mais ao saber que terei que arranjar outro companheiro pra minhas noites.
Não sou mais um menina sem seu livro. Sou uma viúva em luto eterno. “


Gabriel G. Caldas – 28 de Novembro de 2014

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